O Sapato do Coração
Há
sempre dois sapatos: o sapato esquerdo e o sapato direito.
O
sapato esquerdo calça o coração. O sapato direito joga futebol.
Quando
chove, os sapatos dão pontapés na chuva. Quando faz sol, os sapatos dão
passeios aos domingos.
À
noite, quando tu dormes, os sapatos dão passos pela casa do teu sonho.
Os
sapatos, patos, patos, sapa, sapa, sapateiam.
Com
saúde, vão até ao fim do mundo. Doentes, vão até ao sapateiro.
Três
sílabas apenas: sa-pa-tos.
Mas
podem ter quatro sílabas se forem muito pequeninos: sa-pa-ti-nhos. E novamente
três se forem muito grandes: sa-pa-tões.
Os
sapatos, na gramática, são uns brincalhões.
Brincalhões,
merecem brincar. Menino que não meteu os sapatos no frigorífico não merece
sorvete no Verão.
Não
é asneira, não: são os sapatos no trapézio da imaginação.
Vê
lá tu: já houve um sapato com pregos que subiu ao monte Evereste.
Nunca
lá estiveste?
Pena:
ensina geografia aos teus sapatos até eles ficarem sem tacões.
Enfim…
faz tudo com os teus sapatos, sapatinhos, sapatões.
Mas,
se um dia endureceres e fores mau sem razão, tira o sapato esquerdo, põe o pé
no chão… E ouve descalço o teu coração.
Pedro Alvim
O sapato do coração
Lisboa, Plátano, 1981
Esta história foi muito bonita,eu gostei muito,espero que os meus colegas se tenham gostado tanto desta história como eu gostei!!!
ResponderEliminarBeijinhos da Bárbara!!!!!